quarta-feira, 7 de abril de 2010

REPORTAGEM TIRADA DO DIARIO DE NOTICIA

"Os arménios não tiveram direito a defesa"

por
susana salvador24 Abril 2005
O seu pai, Juan Zavene Hapetian, foi um dos sobreviventes do genocídio arménio? Conte-me a sua história.
A família do meu pai é arménia e foi obrigada a abandonar a região onde vivia devido ao genocídio. A minha avó, a minha tia e o meu pai foram os três únicos sobreviventes. Nunca soube como e onde apanharam o barco em que fugiram. Depois refugiaram-se no México. O meu pai durante toda a vida teve documentos mexicanos, daí o no-me Juan. Acabou por ir para França, onde tirou o curso e conheceu a minha mãe. Casaram-se e foram viver para Barcelona, onde fundaram a primeira casa de tapetes orientais da Península Ibérica. Depois houve a Guerra Civil Espanhola e o meu pai, farto de guerras, veio para Portugal. No 25 de Abril disse "Mas será que algum dia vou ter paz?" Eu nasci em Portugal.
O genocídio arménio era um tema debatido na vossa família ou era tabu?
O meu pai evitava falar disso. O que sei sobre o genocídio foi-me dito por outras pessoas. Ele passou muito, não gostava de recordar.
O que lhe contaram?
Contaram-me que o chefe turco naquela altura dizia "Se tiverem arménios como vizinhos, sejam bebés ou não, autorizo-vos a matá--los." Era um assassínio autorizado. O povo arménio não teve direito a defesa, e isso para mim foi o pior.
Que sentia quando lhe contavam essas histórias. Que sente ainda hoje face a esse passado?
Por um lado, tristeza por saber o que o meu pai passou, mas, por outro, orgulho em ser arménio. Porque é raro o arménio que, fora do seu país, não consegue singrar na vida. Existe um combate interior, uma revolta. Não aceitamos a derrota nem nunca mais aceitaremos ser dominados por alguém.
Nos últimos anos a questão do genocídio tem vindo a ser mais falada...
Tinha de acabar por ser falada. O genocídio já é reconhecido em França e todos os países vão ter de acabar por fazer o mesmo. A própria Turquia, se quiser fazer parte da União Europeia, vai ter de o declarar oficialmente.
Acha que isso vai acontecer?
O dinheiro faz tudo. Por causa do dinheiro do mercado comum eles vão fazer tudo. O dinheiro prostitui as pessoas.
Hoje, os arménios ainda vêem os turcos como o inimigo?
Para mim não, mas para algumas pessoas ainda o são. Há uns anos estive em Istambul e na recepção do hotel havia um rapaz turco, com 22 anos. Quando lhe dei o meu passaporte ele reparou no nome, Hapetian. "Sou arménio", afirmei; ele ficou calado. Três dias depois, quando volto para fazer o checkout e recuperar o meu passaporte, decido comprar alguns postais. No momento de os pagar, o mesmo turco disse-me "Para si é grátis." Isso tocou-me muito.
Os turcos já começam a reconhecer os erros da sua história?
Os antigos não e a nova geração não se preocupa. A vida, ao contrário do ódio, tem de continuar. Tem de haver união entre as pessoas, porque é a união que faz a força

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