sexta-feira, 23 de abril de 2010

RECONHECIMENTO PELO ESTADO DO RIO DE JANEIRO O GENOCÍDIO ARMÊNIO E SEUS RESPONSAVEIS

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
2007 Nº Despacho
PROJETO DE LEI nº1142/2007
INSTITUI O DIA EM HOMENAGEM E
SOLIDARIEDADE AO POVO ARMÊNIO
PELA PASSAGEM DO GENOCÍDIO
OCORRIDO CONTRA ESSA NAÇÃO
EM 24 DE ABRIL DE 1915.
Autor: Vereador Stepan Nercessian
A CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
Decreta:
Art. 1º Fica instituído no Município do Rio de Janeiro, O DIA
EM HOMENAGEM AO POVO ARMÊNIO.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Plenário Teotônio Villela, 24 de ABRIL de 2007.
Stepan Nercessian
Vereador - PPS
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
JIUSTIFICATIVA
Primeira nação a adotar o cristianismo como religião, a história da Armênia e de
seu povo é repleta de acontecimentos marcantes. Durante os anos finais do
Império Otomano (1915-1923), As estimativas para o número de armênios que
terão perdido a vida durante esse período histórico variam entre 1 milhão e 2
milhões, mas há um consenso entre historiadores do mundo todo na cifra de 1,5
milhão de armênios mortos. A morte dessas pessoas é lembrada pelos armênios
em todo o mundo a 24 de Abril.
A Primeira Guerra Mundial resultou trágica para os armênios, pois deu
oportunidade aos Jovens Turcos de realizarem seu premeditado projeto de
liquidar o povo armênio. Na noite de 24 de abril de 1915 foram aprisionados em
Constantinopla mais de seiscentos intelectuais, políticos, escritores, religiosos e
profissionais armênios,que foram deportados ao interior do país e selvagemente
assassinados no caminho. Depois de privar o povo de seus dirigentes, começou a
deportação e o massacre dos armênios que habitavam os territórios asiáticos do
Império. Mewlazada Rifar, membro do Comitê de União e Progresso, em seu livro
"Bastidores obscuros da revolução turca", disse:
" Em princípios de 1915 a Comitê de União e Progresso, em uma sessão secreta
presidia por Talat, decide o extermínio dos armênios. Participaram da reunião
Talat, Enver, o Dr. Behaeddin Shakir, Kara Kemal, o Dr. Nazim Shavid, Hassan
Fehmi e Agha Oghlu Amed. Designou-se uma comissão executora do programa
de extermínio integrada pelo Dr. Nazim, o Ministro da Educação Shukri e o Dr.
Behaeddin Shakir. Esta comissão resolveu libertar da prisão os 12000 criminosos
que cumpriam diversas condenações e aos quais se encarregava o massacre dos
armênios”.
“O Dr. Nazim bei escreve: “Se não existissem os armênios, com uma só indicação
do Comitê de União e Progresso poderíamos colocar a Turquia no caminho
requerido”. O Comitê decidiu liberar a pátria desta “raça maldita ” e assumir ante
a historia otomana a responsabilidade em que este fato implica. Resolveu
exterminar todos os armênios residentes na Turquia, sem deixar vivo a um só
deles;nesse sentido foram outorgados amplos poderes ao governo.”.
A cidade de Alepo caiu nas mãos dos ingleses e foi encontrado muitos
documentos que confirmavam o extermínio dos armênios ido organizada pelos
turcos. Um destes documentos é um telegrama circular dirigido a todos os
governadores:
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
“À Prefeitura de Alepo: Já foi comunicado que o governo decidiu exterminar
totalmente os armênios habitantes da Turquia. Os que se opuserem a esta ordem
não poderão pertencer então à administração. Sem considerações pelas
mulheres, as crianças e os enfermos, por mais trágicos que possam ser os meios
de extermínio, sem executar os sentimentos da conseqüência, é necessário por
fim à sua existência. 13 de setembro de 1915. O Ministro do Interior, Talat.”
Alguns testemunhos, René Pineau escreve: “Em geral, as caravanas de armênios
deportados não chegavam muito longe. À medida em que avançavam, seu
numero diminuía com conseqüência da ação dos fuzis, dos sabres, da fome e do
esgotamento... Os mais repulsivos instintos animais eram feitos com essas
desgraçadas criaturas. Torturavam e matavam. Se alguns chegavam a
Mesopotâmia, eram abandonados sem defesa, sem viveres, em lugares
pantanosos do deserto: o calor , a umidade e as enfermidades acabavam, sem
divida, com a vida deles”.
Uma viajante alemã escutou o seguinte de uma armênia, em uma das estações
do padecimento de um grupo de montanheses armênios: “Por que não nos matam
logo? De dia não temos água e nossos filhos choram de sede;e pela noite os
maometanos vem a nossos leitos e roubam roupas nossas, violam a nossas filhas
e mulheres. Quando já não podemos mais caminhar, os soldados nos espancam .
Para não serem violentadas , as mulheres se lançam à água, muitas abraçando a
crianças recém nascidas”.
Alem de todas as brutalidades exercidas contra o povo armênio, o governo turco
cometeu outra vileza: a maioria dos jovem armênios mobilizados ao começar a
guerra não foram enviados à frente, mas que integraram brigadas para
construção de caminhos. Ao terminar o trabalho todos eles foram fuzilados por
soldados turcos.
Jacques de Morgan assim se refere às deportações, aos massacres e aos
sofrimento padecidos pelos armênios:
“Não há no mundo um idioma tão rico, tão colorido, que possa descrever os
horrores armênios, para expressar os padecimentos físicos e morais de tão
inocentes mártires. Os restos dos terríveis massacres, todos testemunhos da
morte sues entes queridos, foram concentrados em determinados lugares a
submetido a torturas indescritíveis e a humilhações que faziam preferir a morte”.
Nos anos de 1915-16 foram exterminados mais de um milhão de armênios, a
Armênia Ocidental foi devastada e despovoada, e o povo armênio perdeu
inúmeras riquezas e inapreciáveis tesouros culturais.
Depois da guerra tudo isto foi esquecido, e os criminosos turcos nunca tiveram
seu Nuremberg.
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
O povo armênio não desapareceu quando estavam nos desertos da mesopotâmia
as mães armênias ensinavam a ler aos seus filhos desenhando as letras do
alfabeto armênio na areia
Até hoje é relembrado o dia 24 de abril e o povo armênio nunca esqueceu do que
aconteceu e sempre lutou para recuperar as terras que foram dominadas pelos
turcos.
Um especial aspecto que deve ser enfatizado, reside no fato de que embora
historicamente comprovado tudo o que aconteceu contra o povo armênio, há
ainda uma grande dificuldade em obter o reconhecimento oficial da comunidade
de nações, através de seu organismo maior –ONU, de que tal fato ocorreu e de
se obter as devidas reparações históricas e reconhecimento de direitos.
Como vereador dessa cidade maravilhosa e descendente de armênios me sinto
emocionado em poder relembrar esse fato histórico tão doloroso para a
humanidade e prestar essa homenagem aos meus queridos irmãos, para que
nunca mais nenhuma atrocidade venha a ser cometida contra qualquer povo.
E em nome do povo carioca tão generoso e solidário, me sinto honrado em ser
porta-voz de tal iniciativa, motivo pelo qual submeto o presente projeto de lei aos
meus pares.

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