sexta-feira, 23 de abril de 2010

DICAS DA CULINÁRIA ARMÊNIA Luciano Pires

Luciano Pires: "Um dia minha empregada veio me pedir que comprasse um tal spray para passar roupas. Vi o anúncio na tevê e fiquei pasmo: o tal spray continha água, para umedecer a roupa antes de passar o ferro. Ou seja, os desgraçados estavam vendendo “água em spray”! Isso vem ao caso, aqui? Vem. Outro dia assisti a um anúncio na tevê conclamando incautos a comprarem uma tal “iogurteira”. Marketing é realmente genial. Estavam vendendo uns copinhos com uma travessa tampada, com direito a uma receita. Ou seja, estavam vendendo caríssimo uns copinhos baratos – e uma idéia. A idéia é a de fazer coalhada (que não é iogurte porque não utiliza coalhos químicos) em casa. E coalhada se faz facilmente em casa, sem frescuras e sem copinhos – ao baixíssimo custo de, digamos, um ou dois litros de leite para um ou dois litros de coalhada.

A coalhada, típica de todo o Oriente Médio, é resultado da fermentação empiricamente controlada do leite – originariamente de cabras. É obtida basicamente da cuidadosa cultura de bactérias, mas diferencia-se claramente do que se conhece por leite talhado ou por iogurte. Não deve jamais ser examinada ao microscópio, sob pena de provocar ojeriza intermitente no observador. Apresenta, outrossim, aspecto externo de agradável pureza e oferece sabor inigualável – além de provocar reações de indelével frescor nos que a ingerem. Pode ser obtida com facilidade, mesmo a partir de mero e prosaico leite de vaca, conforme os seguintes procedimentos:

1) Ferva o leite (leite tipo A ou B, jamais tipo Longa Vida)
2) Passe o leite fervido para um pirex com tampa
3) Deixe que o leite esfrie até que fique morno (em dias frios, um pouco mais quente do que morno)
4) Dissolva uma ou duas colheres de sopa de coalhada nesse leite morno, mexendo bem
5) Tampe e embrulhe o recipiente em grossa camada de papel ou em um cobertor (mais fácil deixar dentro de um isopor tapado)
6) Deixe descansar por no mínimo 7 horas – sem que haja qualquer tipo de oscilação
7) Destape o recipiente e deixe esfriar

Atenção: Não permita jamais que fariseus insensíveis (geralmente italianos e mineiros) contraponham a esta receita a abominável prática de se talhar o leite com gotas de limão ou 'engrossá-lo' com leite em pó ou amido de milho, já que tais procedimentos, além de profundamente heréticos, beiram as raias do mau-gosto em termos de historicidade e respeito às tradições.

OBSERVAÇÕES PERTINENTES

a) Para se criar uma coalhada, é preciso ter o “coalho” (ou seja, um pouco da coalhada que se fez anteriormente). Tal qual a história do ovo e da galinha, nem o mais ortodoxo Catolicós (o “Papa” dos armênios), ou o próprio Noé saberia explicar as origens do Primeiro Coalho. Teria, esse Coalho Primordial, esse Coalho Primevo, sido o “Ser-Em-Si-Imanente-ao-Big-Bang?” Ou, apenas, o “Sumo Supremo” rescendente de papíricas pororocas armênias, sírias, árabes ou libanesas resultantes da confluência do Tigre e do Eufrates, se é que confluem? Eu, pessoalmente – na crença de ser possuidor desse direito, como descendente de tão milenares tradições gustativas – costumo usar como coalho um mero e herético pote plástico de iogurte natural (nem tão natural, mas ao menos sem quinquilharias como morangos, mel etc.) jamais desnatado ou diet, desses que são encontrados, infelizmente sem qualquer dimensão épica da tradição, em qualquer gôndola de supermercado.

b) A coalhada que durante sua fermentação permanece tapada por seis ou sete horas resulta com sabor suave e aveludado; caso se pretenda uma coalhada mais picante, é preciso deixar que descanse por mais tempo: dez, doze ou quinze horas. (Como se vê, também o Oriente Médio cultiva a paciência que indevidamente se atribui com exclusividade aos habitantes do Extremo Oriente).

c) De cada vinte ou trinta coalhadas que se faz, uma ou duas “não vira” – ou seja: não “coalha”. Totalmente desconhecidas, as causas do fenômeno só podem ser especuladas: talvez algum motim de bactérias subversivas, ou resquícios de mau-humor da anônima vaca que gerou o leite – ou, quem sabe?, a ocorrência de mais um daqueles fatos que se destinam apenas a justificar estatísticas. De qualquer maneira, nesses casos perde-se todo o leite empregado – restando apenas a possibilidade de se exclamar, com a sensualidade de um turco: “Borh!” (o que, em tradução livre e honesta, significa: Bosta!). Por essas e outras, sugere-se que não se tente fazer coalhada em grandes quantidades num mesmo recipiente. Dura, inalterada, por até uns dez dias na geladeira.

USOS E ABUSOS

Coma pura, com mel, com açúcar, com frutas, com alho e sal, use em receitas para muitas vezes substituir creme de leite. É excelente também como regulador da flora intestinal (o princípio é o mesmo do Yakult). E, se quiser ter um pouquinho mais de trabalho, faça em casa (a custos baixíssimos), a famosa “coalhada seca” – para mim talvez o melhor dos patês.

COALHADA SECA

Faça coalhada com cinco litros de leite Tipo A. Num pano de aproximadamente 1 m por 1 m (costumo usar, ao invés de pano, entretela – que é depois apenas descartada), disposto sobre uma vasilha grande, despeje a coalhada já pronta. Amarre as quatro pontas do pano com nós fortes, formando uma grande trouxa. De alguma forma, tire a trouxa da vasilha e pendure com um recipiente em baixo para conter o “soro” que vai sendo coado. Eu costumo usar um isopor grande com um recipiente no fundo, e a trouxa sustentada por um pedaço de cabo de vassoura. Deixe escorrer por umas 12 horas. Depois, é só desfazer a trouxa e colocar a coalhada seca num pote. Guarde em geladeira e, para comer, tempere cada porção com muito azeite, sal, alho socado (se quiser) e hortelã seca.

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DICAS DA CULINÁRIA ARMÊNIA Luciano Pires

Luciano Pires: "Estes pratos têm tanta história que acabam por não ter história: já foram há muito espontaneamente “tombados” como Patrimônio Culinário Mundial. E desconfio que, caso se pretendesse apurar algo como uma “paternidade”, novas guerras com carros-bomba, bicicletas-bomba e gentes-bomba eclodiriam em todo o Oriente Médio. No Brasil, acabaram recebendo o rótulo genérico de “comida Árabe” – mas na realidade é ecumênica, com as naturais pequenas variações incrementadas por países e comunidades. Aprendi a fazer estas receitas com meus familiares armênios. São relativamente fáceis – e as versões para forno realmente facílimas. Já vi muitos vândalos comendo quibe com quetchup, mas os melhores acompanhamentos são cebola, limão, pimenta, hortelã fresca e coalhada.

O Quibe Cru e seu complemento, o Mussáuak, são básicos para pratos como Quibe Frito e Quibe de Forno (Bahar é pimenta síria, disponível em qualquer supermercado)

QUIBE CRU
(Não deve ser congelado)

1 kg de patinho moído duas vezes (não pode ser outra carne!), sem nenhuma gordura e, se possível, sem os nervinhos internos
½ cebola
6 folhas de manjericão
3 xícaras ( chá) rasas de trigo fino lavado
1 colher (sobremesa) de gordura de porco (pode substituir por gordura vegetal)
Sal e Bahar (bem pouco)

Tempere a carne com sal e Bahar, junte metade da cebola e o manjericão e passe no processador, rapidamente (nesta etapa, não deixe a carne virar pasta). Junte o trigo, o resto da cebola e a gordura e processe bastante até que vire uma pasta homogênea. Ponha numa tigela, junte ¼ de copo de água gelada e amasse bastante com as mãos, até que a mistura fique macia. Coloque numa travessa ou dê a forma que desejar para porções individuais.

Sirva com vários ramos de hortelã fresca e uma cebola crua (das grandes) fatiada em quatro pedaços. Isto não é guarnição: é pra comer, depois de cada um temperar sua porção com sal e bastante azeite.

Dicas
1) As avós e tias armênias torcem o nariz para o processador. De fato, a tradicional máquina de moer carne produz melhores resultados – mas dá muito trabalho, e o processador é ótimo.
2) O quibe cru fica sempre acinzentado. Por isso, desconfie dos quibes vermelhinhos: algo não está certo: pode ser colorau, pode ser conservante – sabe-se lá!
3) Lave o trigo apenas trocando muitas vezes de água, esfregando o trigo com as mãos entre uma água e outra. Depois de lavado, deixe numa peneira por uns dez minutos para a água escorrer – e no fim aperte bastante para eliminar o excesso de água.


MUSSÁUAK
(Pode ser congelado)

200 g de alcatra ou capa-de-filé (sem excessos de gordura) moída uma só vez
2 cebolas médias picadas
2 colheres de manteiga
1 colher rasa de pinhõezinhos (é muito caro: pode usar nozes, em quantidade maior, esfareladas grosseiramente com as mãos)
Suco de meio limão grande ou de um limão pequeno
Sal, Bahar e canela em pó (em pouquíssimas quantidades)

Refogue a cebola e a carne na manteiga. Junte as nozes e deixe dourar. Acrescente o limão, retire do fogo e tempere com sal, Bahar e canela em pó (pouquíssimas quantidades)


QUIBE FRITO
(Pode ser congelado, mesmo antes de fritar)

1 kg de quibe cru
200 g de mussáuak

Pegue um punhado que quibe cru e dê-lhe o formato de um ovo. Perfure-o com o dedo indicador e, apoiando a massa na palma da outra mão, procure afinar as paredes o máximo possível. Recheie o quibe com mussáuak. Umedeça a mão e feche o orifício, apertando bem a ponta. Se preferir quibes maiores, dê-lhes uma forma mais alongada e faça dois orifícios para colocar o recheio, um em cada ponta. Frite boiando em manteiga ou azeite bem quente, até corar de leve. Sirva com coalhada fresca e tabule.

Dicas
1) Você pode também rechear o quibe com um ovo cozido, ao invés do mussáuak. Neste caso, frite em azeite, deixe esfriar e corte-o em fatias.
2) Se servir com coalhada fresca, junte a ela pepino picado (sem sementes) e hortelã seca esfarelada.

QUIBE DE FORNO
(Pode ser congelado)

1 kg de quibe cru
200 g de mussáuak
2 ou 3 colheres (de sopa) de manteiga derretida

Unte uma assadeira média (ou pirex) com manteiga e forre inteiramente com uma camada fina de quibe cru, subindo pelas bordas da assadeira. Recheie com uma camada de mussáuak e cubra com uma camada grossa de quibe. Ao todo, as camadas devem ter 2 cm de espessura. Molhe a mão, alise o quibe e aperte as beiradas para fechá-las bem. Com faca de ponta molhada, desenhe losangos sobre a massa, sem aprofundar o traço. Espalhe a manteiga derretida, leve ao forno e deixe assando até corar levemente. Depois, retire do forno e sirva quente, com coalhada fresca (melhor se for temperada com alho esmagado e sal).

Dica
O quibe de assadeira permanece macio se, ao ser retirado do forno, for abafado com outra assadeira e envolto num pano.

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CAFTA NO ESPETO

1 kg de alcatra muito bem moída (passe também pelo processador para que vire uma pasta)
½ cebola moída com um pouco de salsinha
1 dente de alho socado com um pouco de sal
Suco de limão, canela em pó (ou Bahar) e azeite

Misture bem a carne, a cebola moída com a salsinha, o alho e o limão. Tempere com a canela (ou Bahar) e regue com azeite. Então passe tudo novamente pelo processador, para que a mistura fique bem “ligada”. A seguir, faça bolinhos compridos em forma de salsicha e enfie-os no espeto, firmando bem para que não caiam (as pontas das “salsichas” devem ser afinadas). Asse na brasa (temperatura branda), no grill do forno ou sobre álcool retificado. Não deixe tostar. Sirva acompanhada por coalhada fresca, pão sírio e tabule.

CAFTA NO FORNO

1 kg de alcatra moída
½ cebola moída com um pouco de salsinha
1 dente de alho socado com um pouco de sal
1 tomate e 1 cebola cortados em rodelas bem finas

Misture bem a carne, a cebola moída com a salsinha, o alho e o limão. Tempere com a canela (ou Bahar) e regue com azeite. Espalhe numa assadeira untada com bastante manteiga. Cubra com as rodelas de tomate e cebola – e algumas bolinhas de manteiga. Leve ao forno baixo. Quando estiver “chiando” por causa da manteiga, aumente o fogo para médio. Quando corar levemente, está pronto. Deixe descansar fora do forno por uns dez minutos antes de servir.

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DICAS DA CULINÁRIA ARMÊNIA Luciano Pires

Luciano Pires: "Jornal Diário da Região, 19 de Março de 2008
(São José do Rio Preto/SP)





A guerreira Parouhi

Por Pierre Duarte

Quem olha para Parouhi Darakjian Kouyoumdjian talvez só enxergue uma simpática senhora de seus 87 anos de idade. Talvez poucos saibam que esta mulher - a mais antiga armênia viva em Rio Preto - é uma guerreira. Viveu tempos difíceis no país dominado pelo regime turco no início do século passado, ficou meses num navio cargueiro com seus pais e suas duas irmãs até chegar no Brasil. Parouhi tinha apenas seis anos de idade quando sua família desembarcou no Porto de Santos, em 1926, e foi recebida pelos patrícios. A alegria da família Darakjian pela liberdade do regime turco foi maior ao sofrimento pelas dificuldades financeiras em terras ocidentais. Cultura, idioma, clima - tudo muito diferente da antiga Armênia. O patriarca Sarkis Darakjian instalou a família em São Paulo e seguiu para a região noroeste do Estado para mascatear.

Somente em 1928 conseguiu trazer a mulher Aruciek e as filhas Azaduhi, Parouhi e Berjuhi para Mirassol. “Minha mãe era filha de médicos. Ela tinha uma situação econômica muito boa na Armênia, enquanto solteira. Me lembro que ela sofria calada com a vida que levava em Mirassol, porque o início foi muito difícil. Era uma mulher muito submissa”, conta Parouhi. Dos tempos de infância em Mirassol, Parouhi se lembra que morava numa espécie de curral, em uma chácara de armênios. “Tinha muito percevejo. Todos os dias minha mãe tinha de ferver os lençóis e colocar os colchões no sol”, afirma. Na medida em que a família foi crescendo - com a chegada de Murad, Maria e Krikor -, a situação financeira se estabilizou. Nessa época, os filhos ajudavam os pais na loja da família, aberta em Mirassol.

Casamento

Você quer casar?”, perguntou Sarkis para Parouhi. “O senhor que sabe”, respondeu a filha obediente. Com o “consentimento” da jovem, o patriarca acertou as núpcias com Aris Kouyoumdjian, filho adotivo de Zartar e João Kouyoumdjian - donos da loja Casa Verde, em Rio Preto. “Naquele tempo, os pais acertavam os casamentos entre armênios. A gente (moças da época) praticamente só conhecia o noivo no dia do casamento”, conta. Com a união das famílias Darakjian e Kouyoumdjian em 1939, Parouhi passou a viver com o marido e os sogros na região conhecida como “quarteirão armênio” - na rua General Glicério. Além de ajudar no comércio, cuidava dos filhos e dos afazeres da casa. “Nunca fiquei parada. Até hoje preciso me sentir ativa”, diz a senhora que em julho completará 88 anos. “Até pouco tempo fazia esfiha para vender.

Mas ainda faço cachecol de lã para minha filha vender na loja dela. Não consigo ficar parada assistindo à televisão”, afirma. “Foi um casamento bom. O mais importante é que consegui criar e formar meus cinco filhos (Zabel, Nevart, Beatriz, Maria e João Aris)”, resume Parouhi. João Aris, neurologista, é um dos maiores pesquisadores científicos de Rio Preto, atuando na Faculdade de Medicina de Rio Preto e Hospital de Base. Hoje a família conta com nove netos e dez bisnetos. “Antigamente a gente era muito submissa. Não expressava muito a opinião, por isso acho que hoje é melhor”, diz. Dos filhos, apenas Zabel e Beatriz casaram com armênios. “Mas por opção”, esclarece.

Bastermã

Ingredientes:
1 peça de coxão mole
Sal grosso
Tchamã (tempero armênio)
Colorau
Pimenta síria
Pimenta calabreza
Alho a gosto

Modo de preparo
Cortar a carne em tiras grossas, no sentido das fibras. Coloque numa tigela e cubra com sal grosso. Deixe curtir na geladeira por três dias. Limpe a carne com um pano seco e pendure no sol por mais dois dias. Misture o tchamã, colorau, pimenta síria, pimenta calabreza e alho até atingir o ponto igual a uma massa de bolo. Passe a carne no tempero e deixe curtir por mais três dias, pendurada na sombra. Corte em fatias bem finas. Sirva como aperitivo ou frita com ovo.

Genocídio armênio

Embora a família Darakjian também tenha fugido do regime turco, as marcas do genocídio armênio foram mais dolorosas para os Kouyoumdjian - especialmente para Aris, que faleceu em 1989, aos 74 anos. “Os turcos dominaram, mataram toda a família do meu marido e jogaram os corpos no rio”, conta Parouhi. Segundo ela, Aris nunca superou o trauma e evitava falar sobre esse assunto - tamanha era a dor. Junto com a família, Aris foi jogado ao rio com apenas dois anos de idade. “Os meus sogros viram o menino se debatendo dentro d’água e o salvaram. Foi então que eles criaram o Aris como único filho”, revela. Ainda sob a dominação turca, vivendo como escravos em tendas árabes enquanto eram deportados para a Síria, João foi separado de Zartar e Aris.

“Somente depois de quatro anos é que eles se reencontraram e conseguiram fugir para o Brasil”, diz. Durante o Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, ocorreu o massacre de um milhão e meio de armênios. “Somente depois que cresci é que compreendi o sofrimento dos armênios. Nunca meus pais nos ensinaram a ter ódio ou rancor dos turcos”, diz o médico João Aris, que todo ano, no dia 24 de abril, escreve para o Diário da Região um artigo tocante sobre as atrocidades sofridas pelo povo armênio.

Destino

Quando a família de Parouhi estava no navio cargueiro a caminho do Brasil, outra família armênia também vislumbrava tempos de glória no Ocidente. A família Sapsezian seguia viagem com um bebê de apenas um mês - Aharon. O patriarca Sapsezian se instalou em São Paulo e conseguiu fazer fortuna. “Zabel já era moça, quando Aharon - aquele bebê que eu conheci com um mês - veio a Rio Preto com um grupo da igreja”, lembra a simpática senhora. “Eles se apaixonaram. E como o Aharon era um rapaz muito bonito e inteligente, as moças de São Paulo não aceitavam a idéia de ele se casar com uma caipira de Rio Preto”, diz. Hoje o casal vive na Suíça. Beatriz se casou com Rapiel Parsekian, o caçula da família Parsek - da tradicional Casa Parsek. Nevart se casou com um descendente sírio, Maria é solteira e João Aris se casou com uma médica brasileira.

Zartar e João Kouyoumdjian salvaram o caçula Aris do genocídio



NOTA
Kouyoumdjian e Kuyumjian são a mesma família. A diferença de grafia é por conta de diferentes rotas de imigração - entenda-se fuga ao genocídio perpetrado pelos turcos.

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Armênia congela reaproximação diplomática com Turquia

Armênia congela reaproximação diplomática com Turquia




22 de Abril de 2010
Por: Agencia Estado - AE-AP



O governo da Armênia congelou a ratificação de um tratado para normalizar suas relações diplomáticas com a Turquia e para reabrir a fronteira entre os dois países, disse nesta quinta-feira o presidência armênio, Serge Sarkisian. O congelamento representa um retrocesso nos esforços para os dois países acabarem com sua longa inimizade.



'Nós deveremos caminhar em frente quando estivermos convencidos de que existe um ambiente adequado na Turquia e houver uma liderança em Ancara pronta a retomar o processo de normalização', disse o presidente em discurso na televisão.



A Turquia fechou sua fronteira com a Armênia em 1993, em protesto contra o envolvimento militar da Armênia na guerra conduzida por separatistas armênios do enclave de Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão, país cujo povo é de etnia turca. Desde então, Nagorno-Karabakh está sob controle de forças armênias e de separatistas armênios.



O fechamento da fronteira aumentou ainda mais as tensões, já exacerbadas pela questão sobre se a matança de 1,5 milhão de armênios pelas forças do Império Otomano, a partir de 1915, foi um genocídio.



Sarkisian disse hoje que o congelamento não significa que a Armênia tenha abandonado o processo de normalização das relações com a Turquia, mas que apenas 'suspenderá o procedimento de ratificar os protocolos'.



Na Turquia, o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, disse que a Armênia é livre para decidir como o processo deve avançar. 'Eu expressei minha lealdade aos pactos em várias ocasiões', afirmou Erdogan. A mediação feita pela Rússia, França, Estados Unidos e a Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE) obteve escasso progresso na disputa sobre Nagorno-Karabakh.

GENOCIDIO ARMÊNIO 24 ABRIL

Genocídio armênio
Você já ouviu essa história? Há 90 anos, o povo armênio quase foi exterminado pelos turcos. E, até hoje, luta pelo reconhecimento internacional do massacre, que vitimou 1,5 milhão de pessoas
por Yuri Vasconcelos

Era 24 de abril de 1915. Na manhã daquele Sábado de Aleluia, em meio às comemorações da Páscoa cristã, cerca de 600 intelectuais, políticos e religiosos da comunidade armênia que viviam no então Império Turco-Otomano, atual Turquia, foram presos sob a acusação de conspiração e traição. Com a Primeira Guerra Mundial incendiando o planeta, os turcos, aliados dos alemães, lutavam contra a Tríplice Entente, formada pela Inglaterra, França e Rússia, e acusaram os armênios de apoiar as tropas inimigas. Enviados para a prisão de Mehder-Hané, na capital Constantinopla, hoje Istambul, os líderes armênios acabaram sumariamente executados. Muitos foram fuzilados e outros enforcados em praça pública. A ação, coordenada pela cúpula do partido governista Ittihad, conhecido como partido dos Jovens Turcos, deu início a uma das piores atrocidades da história da humanidade: o genocídio armênio, um sangrento massacre em que morreram cerca de 1,5 milhão de pessoas. Estima-se que, naquela época, o Império Otomano abrigava por volta de 2 milhões de armênios.

Passados 90 anos da tragédia, muitos historiadores acreditam que o genocídio fez parte de um processo de limpeza étnica, com a intenção de eliminar o povo armênio. Ou seja, uma versão turca do Holocausto, que matou, segundo estimativas, entre 2 e 5 milhões de judeus. Os assassinatos foram meticulosamente planejados por um triunvirato que estava no comando do país, formado por Mehmet Talaat, ministro do Interior e futuro primeiro-ministro turco, Ismail Enver, ministro da Guerra, e Ahmed Jemal, ministro da Marinha. Uma série de telegramas, tornados públicos depois da matança, revelavam detalhes do plano de extermínio. A estratégia era diversificada, mas a maior parte das vítimas morreu durante longas e penosas jornadas de deportação que tinham como destino o deserto de Der-El-Zor, localizado no território sírio, naquela época parte do Império Otomano. “Os turcos alegavam que os armênios precisavam deixar suas casas por causa do avanço das tropas da Entente e organizavam caravanas de morte, formadas por mulheres, crianças e idosos. Muitos levavam a chave de casa, achando que iriam voltar”, diz o professor de geopolítica James Onnig Tamdjian, de 39 anos, neto de armênios que sobreviveram ao genocídio. “No meio do caminho, os armênios sofriam abusos. As mulheres eram violentadas, seus filhos raptados e a maioria morria de fome, sede, doença ou frio. Os poucos que chegavam aos campos de concentração tinham poucas chances de sobreviver.”

Já os homens morriam assassinados no front de batalha da Primeira Guerra. Se antes eles não podiam nem integrar as forças armadas turcas, agora haviam sido convocados para se alistar no Exército. Só que não podiam pegar em armas. “Enquanto cavavam trincheiras, eram executados pelos próprios soldados otomanos. A convocação para o serviço militar foi um pretexto para deixar as aldeias desprotegidas”, afirma Tamdjian. Há relatos também de vilas e povoados destruídos, saqueados e incendiados pelas forças turcas e por milícias apoiadas pelo governo central. E as atrocidades não paravam por aí. “Muitos armênios foram queimados vivos nas aldeias. Outras vezes, a tortura consistia em enterrar a vítima até o pescoço para, logo em seguida, cobrir o rosto com cal virgem ou sal. As jovens armênias eram vendidas como escravas e as crianças eram encaixotadas vivas e atiradas no Mar Negro”, relata Nubar Kerimian, no livro Massacres de Armênios. “Os padres também eram queimados amarrados em cruzes, como Jesus, e os fetos, arrancados dos ventres das mães, jogados para o ar e aparados na espada.”

O genocídio atingiu mais fortemente as comunidades campesinas e de pequenas localidades da Anatólia, a região montanhosa que compreende a porção asiática da Turquia moderna. Naquela época, a Armênia Oriental, atual território da República da Armênia, era protegida pelos russos, inimigos declarados dos turcos. Nas grandes cidades do Oeste, como Constantinopla, a presença de estrangeiros inibia os massacres, já que o governo otomano tentava esconder da comunidade internacional as atrocidades perpetradas dentro de suas fronteiras. Mesmo assim, as notícias sobre os massacres acabaram vazando e chegaram ao conhecimento de governantes de outros países, que condenaram a ação, mas não tomaram medidas para evitar a matança.

O período mais duro do genocídio ocorreu entre 1915 e 1918. Quando a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim, os turcos, derrotados, foram forçados a assinar o Tratado de Sèvres, que tornou independente Síria, Egito, Líbano, Palestina e, também, Armênia. As escaramuças entre turcos e o povo armênio, no entanto, haviam começado bem antes daquele sábado da Semana Santa. Entre 1894 e 1896, quando o Império Otomano encontrava-se em franca desintegração, estima-se que entre 100 mil e 300 mil armênios tenham sido executados. “Em muitas cidades, propriedades armênias eram destruídas. Os assassinatos aconteciam durante o dia, presenciados pela população”, diz o historiador Edwin Bliss, autor do livro Turkey and the Armenian Atrocities (A Turquia e as Atrocidades Armênias, inédito no Brasil).

A justificativa para esses massacres, ordenados pelo sultão Abdul-Hamid II, foi uma suposta colaboração armênia com os russos, considerados inimigos do Império. Entre 1877 e 1878, a Rússia entrou em guerra contra os turcos e saiu vitoriosa, conquistando largas porções da Armênia Ocidental que estavam sob domínio otomano. Além disso, as autoridades turcas queriam frear o ímpeto separatista dos armênios, que reivindicavam a independência. No final dos anos 1880, o movimento nacionalista ganhou forças e três partidos revolucionários (Armenakan, Hentchakuian e Federação Revolucionária Armênia) foram formados, fazendo com que Abdul-Hamid II, em represália, elevasse os impostos sobre a comunidade armênia. “O que fez com que os armênios apoiassem os russos foram as péssimas condições em que viviam no Império, onde eram alvos de agressões e tinham direitos limitados. Esse cenário fez com que eles se armassem e formassem milícias para defender suas vilas e aldeias”, afirma James Tamdjian.

A terceira e última fase das atrocidades começou em 1920 e estendeu-se por três anos. Depois de desfrutar dois anos de independência (entre 1918 e 1920), a República da Armênia havia sido anexada à nascente União Soviética. Desta vez, a violência foi dirigida a armênios que haviam retornado às suas casas na Anatólia Oriental após o final da Primeira Guerra Mundial. As execuções, torturas, expulsões e maus-tratos foram arquitetados e promovidos pelo governo nacionalista de Mustafá Kemal Atatürk, considerado o pai da Turquia moderna. Em 1923, a população armênia na Turquia estava restrita à comunidade existente em Constantinopla.

Embora os armênios tenham sido trucidados pelos turcos, é importante dizer que durante muito tempo esses dois povos viveram em harmonia. A porção de terra conhecida como Armênia Histórica, que hoje engloba a República da Armênia e parte da Anatólia (veja mapa na página ao lado), foi conquistada pelo Império Otomano por volta do ano 1375. Durante 600 anos, os turco-otomanos formaram um dos mais poderosos impérios do planeta, que, no seu auge, se estendia pelo norte da África (Argélia, Marrocos, Egito), Oriente Médio (Líbano, Arábia Saudita, Jordânia, Síria, Palestina, Pérsia), Rússia e Europa (Grécia, Hungria, Bulgária, Albânia e a região dos Bálcãs, entre outras). Para manter a unidade e o bom funcionamento do império, parecido com uma colcha de retalhos, tamanho era o número de povos e etnias que abrigava, os governantes adotaram um tolerante sistema chamado de millet, termo turco que quer dizer “comunidade religiosa”.

“Cada comunidade religiosa, como a formada pelos cristãos e pelos judeus, gozava de autonomia e funcionava como uma nação não-territorial, participando das trocas econômicas com outras comunidades. Seu líder espiritual era responsável perante ao sultão pelo bom comportamento dos seus”, diz o historiador holandês Peter Demant, autor de O Mundo Muçulmano. Os armênios, que desde o século 3 adotavam a religião cristã, formavam um millet. Eles eram considerados bons comerciantes e alguns integravam a elite do Império.

Então, que motivos levaram o governo otomano a tanta violência contra uma minoria que vivia em harmonia dentro do Império? A primeira justificativa foram as aspirações pan-turquistas (ou pan-turanistas), o sonho otomano de reconstruir uma poderosa nação integrando os povos de origem turca que viviam espalhados na Ásia Central, especialmente em regiões do Turcomenistão e Azerbaidjão. Os armênios, por sua posição geográfica, formavam um enclave bem no meio do caminho. Outra motivação para o genocídio, negada pela Turquia (veja quadro na página 38), foi a causa da independência armênia. Há de se ressaltar que, nesta época, o império já enfrentava a desintegração. Os gregos, por exemplo, já haviam conquistado sua autonomia em 1812. “Os turcos temiam os armênios por sua capacidade intelectual e comercial. Cerca de 60% da atividade econômica do Império estava nas mãos dessa comunidade”, diz o historiador Hagop Kechichian, doutor em história armênia pela Universidade de São Paulo (USP).

Além de causar a morte de milhões de pessoas e quase exterminar um povo, o genocídio também provocou uma grande diáspora. Hoje, além da população de 3,5 milhões de pessoas da República da Armênia, estima-se que cerca de 2,6 milhões de armênios e descendentes vivam na Federação Russa e na República da Geórgia e pouco mais de 2,5 milhões estejam espalhados pelo resto do mundo, principalmente nos Estados Unidos, Canadá, França, Irã, Argentina, Líbano, Síria e Austrália. No Brasil, a comunidade armênia tem em torno de 60 a 70 mil pessoas. Não importa onde estejam, a luta dos armênios hoje é uma só: o reconhecimento do genocídio pelo mundo.

"Minha família viveu na Armênia Ocidental e fez parte das caravanas de deportados. Meu bisavô materno, antes de escapar para a Síria, presenciou o fuzilamento de três irmãos e do pai. Sua mãe cometeu suicídio. Eles começaram a chegar na América do Sul em 1923. Nós perdemos tudo e tivemos de recomeçar do zero."

Garbis Bogiatzian, 23 anos, nascido em São Paulo

"Minha irmã mais velha morreu de frio durante a fuga da minha famíla para o Líbano. Lembro-me de meus pais contando histórias terríveis, de pessoas sendo degoladas e de mulheres grávidas apunhaladas por policiais turcos que arrancavam seus filhos do ventre. Me recordo de um episódio em que, tentando escapar, alguns conterrâneos entraram numa igreja e foram barbaramente incendiados."

Arusiak Nersissian, 78 anos, nascida em Beirute, Líbano

"Durante o genocídio, meu pai foi separado dos meus avós e enviado para um orfanato. Lá, sofreu abusos. Quando ficou mais velho, fugiu para a Romênia. Depois, para o Líbano. No Brasil, chegou no final dos anos 20. Ele não falava a língua e não conhecia ninguém. Integro o Conselho Nacional Armênio, entidade internacional que luta pelo reconhecimento das atrocidades contra meu povo."

Simão Kerimian, 59 anos, nascido em Bela Vista (MS)


Versão turca
A Turquia admite que houve uma "terrível mortalidade" entre os armênios, mas nega o genocídio

No mesmo momento em que se esforça para ingressar na União Européia, a Turquia sofre pressão para reconhecer as atrocidades cometidas contra o povo armênio. Passados 90 anos da tragédia, o genocídio só é reconhecido pela França, Austrália, Argentina, Suécia, Itália, Chipre, Grécia e Uruguai e por organizações internacionais como o Parlamento Europeu, a Comissão de Direitos Humanos da ONU e o Conselho Ecumênico das Igrejas. Os armênios, no entanto, não contam com o apoio oficial dos Estados Unidos, que têm na Turquia o seu mais forte aliado no mundo muçulmano. O país desempenha um relevante papel no xadrez político global e abriga bases da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O governo turco nega que tenha ocorrido um genocídio, apesar de reconhecer que “os armênios sofreram, sim, uma terrível mortalidade”, e afirma que agiu para garantir a soberania nacional. O país diz ainda que o número de mortos alegados pelos historiadores é exagerado. “Estudos demográficos provam que antes da Primeira Guerr Mundial menos de 1,5 milhão de armênios viviam em todo Império Otomano. Portanto, alegações de que mais do que 1,5 milhão de armênios da Anatólia Oriental morreram só podem ser falsas”, afirma o Ministério das Relações Exteriores da Turquia. “Se por um lado, existe um imenso e profundo volume de conhecimento sobre o holocausto, por outro, grande parte da história do crepúsculo do Império Otomano ainda não foi contada, faltando detalhamento para que conclusões possam ser tiradas sobre o que realmente aconteceu.”
O mapa da morte
A carnificina espalhou-se pelo Império Otomano

Monte ararat

O símbolo nacional dos armênios, local em que os cristãos acreditam ter ancorado a arca de Noé depois do dilúvio, fica agora em território turco. Da capital armênia Yerevan, onde moram 1,2 milhão de pessoas, é possível avistá-lo.

Rota da morte

O destino final das deportações era o deserto de Der-El-Zor, hoje Síria e na época parte do Império Otomano. Estima-se que dos 500 mil armênios deportados, apenas 90 mil tenham sobrevivido.

Cerco de Van
Era uma das mais prósperas cidades armênias no início do século passado. Foi cercada pelas tropas turcas e acredita-se que mais de 50 mil pessoas tenham sido mortas ali. O episódio é retratado no filme Ararat, do cineasta Atom Egoyan, canadense de origem armênia.


Saiba mais

Livro

Massacre de Armênios, Nubar Kerimian, Igreja Apostólica Armênia do Brasil, 1988 - Traz fotos do genocídio e o depoimento de Naim Bei, turco que participou diretamente do massacre.

Sites

www.armenian-genocide.org - Mapas, dicas de leitura e um esclarecedor FAQ (Frequently Asked Questions) sobre o genocídio.
www.armenia.com.br/hayk.htm#osa - Apanhado histórico dos armênios até a atualidade.

GENOCÍDIO ARMÊNIO


O que é mais importante, ser fiel ao passado histórico ou manter boas relações no presente?
Chama eterna no memorial do genocídio, Armênia. Foto: Corel Stock Photo.
Um assunto alvoroçou o Congresso Estadunidense em março de 2010: a votação que reconheceria a matança de armênios no início do século XX com o título de genocídio.
Mas, o que significa esta palavra? Vamos conhecer sua origem!
O radical genos vem do grego e significa: origem, povo, nação. Já cidium, vem do latim, e quer dizer cortar, matar. Juntando os dois radicais descobriremos que genocídio significa matar um povo.
Vamos ir mais além, observando a definição do Dicionário Aurélio:
“Crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte; adotar medidas que visem a evitar nascimentos no seio do grupo; realizar a transferência forçada de crianças dum grupo para outro”.
Foi em 9 de dezembro de 1948, poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, que a ONU aprovou a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, tornando esta prática, passível de punição.
O massacre armênio (1915-1918)
O território que hoje pertence à Armênia, no passado fez parte do Império Otomano; e foi durante esta dominação entre os anos de 1894-1896, que se iniciaram os primeiros massacres. O auge da matança ocorreu entre 1915-1918 quando milhares de Armênios foram deportados participando de longas marchas pelo deserto, padecendo de frio, fome, cansaço e doenças. Calcula-se que no total, 1,5 milhão de armênios foram mortos. O massacre tornou-se mais conhecido no Ocidente graças ao livro de Arnold Toynbee, um historiador inglês, chamado de Atrocidades turcas na Armênia. Acompanhe uma parte de seu relato:
“Caminhavam a passo, a maior parte caindo de fraqueza por falta de alimento. Vimos um pai com uma criança de um dia ao colo e seguido pela mãe, caminhando conforme podiam, forçados pelo bastão do guarda turco. Não era fato extraordinário ver uma mulher cair desfalecida e ser obrigada a levantarse à força de bordoada.”  TOYNBEE, Arnold. Atrocidades Turcas na Armênia: Denúncias de grandes personalidades. São Paulo, Paz e Terra, 1993.
National Archives NWDNS-4-P-302.
No cartaz veiculado nos EUA (1917-1919) está escrito: “Um pouco de ajuda pode salvar uma vida. 2,5 milhões de mulheres e crianças estão morrendo de fome. Você não pode deixá-los morrer. Campanha de ajuda Armênia e Síria.”
Após a mortandade, se iniciou uma diáspora de armênios pelo mundo. Se hoje a população do país tem 3,5 milhões de habitantes, outros milhões estão dispersos pelo mundo principalmente na Rússia e EUA. Já para o Brasil, calcula-se que cerca de 70 mil tenham migrado.
Hoje, independente do país em que vivam, os armênios lutam para que o genocídio seja reconhecido no mundo. A Turquia, “herdeira” do Império Otomano apesar de admitir a mortandade, nega a palavra genocídio e diz que os massacres ocorreram numa época de caos que atingiu a região, de guerra civil, agravada por doenças e fome. Para eles, com o colapso do Império, todos os lados tiveram vítimas (os turcos contestam os números armênios dizendo que são um tanto exagerados).
O problema hoje
O que um fato que ocorreu no início do século XX tem a ver com os EUA de 2010? Vamos descobrir…
Nem todos os países do mundo já reconheceram a matança armênia como genocídio. A França, quando votou pelo sim, há poucos anos, teve uma multidão protestando em frente a sua embaixada na Turquia e uma ameaça de boicote aos seus produtos. Já os EUA, quando anunciaram a votação (feita no Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes dos EUA), receberam um aviso de diplomatas e políticos turcos que, o resultado poderia prejudicar as relações entre os dois países.
A Turquia é uma grande aliada estadunidense. É em seu território que os EUA têm uma base aérea que permite enviar suprimentos e homens para o Iraque e o Afeganistão. O país, também é membro da OTAN, tendo o segundo maior exército dessa aliança militar; o que explica ser praticamente obrigatório para os EUA manter boas relações com a Turquia.
A votação relacionada ao genocídio foi assunto nacional, sendo transmitida pela TV turca com grande audiência. O resultado foi apertado: o Congresso reconheceu o genocídio por 23 votos a 22. A secretária de Estado Americano, Hillary Clinton, rejeitou a votação do Congresso e trabalhará para que o Senado americano não reconheça o genocídio.
A polêmica continua, e vamos ver quem vai ganhar: a História ou a diplomacia internacional?
Por Priscila Pugsley Grahl

RECONHECIMENTO PELO ESTADO DO RIO DE JANEIRO O GENOCÍDIO ARMÊNIO E SEUS RESPONSAVEIS

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
2007 Nº Despacho
PROJETO DE LEI nº1142/2007
INSTITUI O DIA EM HOMENAGEM E
SOLIDARIEDADE AO POVO ARMÊNIO
PELA PASSAGEM DO GENOCÍDIO
OCORRIDO CONTRA ESSA NAÇÃO
EM 24 DE ABRIL DE 1915.
Autor: Vereador Stepan Nercessian
A CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
Decreta:
Art. 1º Fica instituído no Município do Rio de Janeiro, O DIA
EM HOMENAGEM AO POVO ARMÊNIO.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Plenário Teotônio Villela, 24 de ABRIL de 2007.
Stepan Nercessian
Vereador - PPS
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
JIUSTIFICATIVA
Primeira nação a adotar o cristianismo como religião, a história da Armênia e de
seu povo é repleta de acontecimentos marcantes. Durante os anos finais do
Império Otomano (1915-1923), As estimativas para o número de armênios que
terão perdido a vida durante esse período histórico variam entre 1 milhão e 2
milhões, mas há um consenso entre historiadores do mundo todo na cifra de 1,5
milhão de armênios mortos. A morte dessas pessoas é lembrada pelos armênios
em todo o mundo a 24 de Abril.
A Primeira Guerra Mundial resultou trágica para os armênios, pois deu
oportunidade aos Jovens Turcos de realizarem seu premeditado projeto de
liquidar o povo armênio. Na noite de 24 de abril de 1915 foram aprisionados em
Constantinopla mais de seiscentos intelectuais, políticos, escritores, religiosos e
profissionais armênios,que foram deportados ao interior do país e selvagemente
assassinados no caminho. Depois de privar o povo de seus dirigentes, começou a
deportação e o massacre dos armênios que habitavam os territórios asiáticos do
Império. Mewlazada Rifar, membro do Comitê de União e Progresso, em seu livro
"Bastidores obscuros da revolução turca", disse:
" Em princípios de 1915 a Comitê de União e Progresso, em uma sessão secreta
presidia por Talat, decide o extermínio dos armênios. Participaram da reunião
Talat, Enver, o Dr. Behaeddin Shakir, Kara Kemal, o Dr. Nazim Shavid, Hassan
Fehmi e Agha Oghlu Amed. Designou-se uma comissão executora do programa
de extermínio integrada pelo Dr. Nazim, o Ministro da Educação Shukri e o Dr.
Behaeddin Shakir. Esta comissão resolveu libertar da prisão os 12000 criminosos
que cumpriam diversas condenações e aos quais se encarregava o massacre dos
armênios”.
“O Dr. Nazim bei escreve: “Se não existissem os armênios, com uma só indicação
do Comitê de União e Progresso poderíamos colocar a Turquia no caminho
requerido”. O Comitê decidiu liberar a pátria desta “raça maldita ” e assumir ante
a historia otomana a responsabilidade em que este fato implica. Resolveu
exterminar todos os armênios residentes na Turquia, sem deixar vivo a um só
deles;nesse sentido foram outorgados amplos poderes ao governo.”.
A cidade de Alepo caiu nas mãos dos ingleses e foi encontrado muitos
documentos que confirmavam o extermínio dos armênios ido organizada pelos
turcos. Um destes documentos é um telegrama circular dirigido a todos os
governadores:
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
“À Prefeitura de Alepo: Já foi comunicado que o governo decidiu exterminar
totalmente os armênios habitantes da Turquia. Os que se opuserem a esta ordem
não poderão pertencer então à administração. Sem considerações pelas
mulheres, as crianças e os enfermos, por mais trágicos que possam ser os meios
de extermínio, sem executar os sentimentos da conseqüência, é necessário por
fim à sua existência. 13 de setembro de 1915. O Ministro do Interior, Talat.”
Alguns testemunhos, René Pineau escreve: “Em geral, as caravanas de armênios
deportados não chegavam muito longe. À medida em que avançavam, seu
numero diminuía com conseqüência da ação dos fuzis, dos sabres, da fome e do
esgotamento... Os mais repulsivos instintos animais eram feitos com essas
desgraçadas criaturas. Torturavam e matavam. Se alguns chegavam a
Mesopotâmia, eram abandonados sem defesa, sem viveres, em lugares
pantanosos do deserto: o calor , a umidade e as enfermidades acabavam, sem
divida, com a vida deles”.
Uma viajante alemã escutou o seguinte de uma armênia, em uma das estações
do padecimento de um grupo de montanheses armênios: “Por que não nos matam
logo? De dia não temos água e nossos filhos choram de sede;e pela noite os
maometanos vem a nossos leitos e roubam roupas nossas, violam a nossas filhas
e mulheres. Quando já não podemos mais caminhar, os soldados nos espancam .
Para não serem violentadas , as mulheres se lançam à água, muitas abraçando a
crianças recém nascidas”.
Alem de todas as brutalidades exercidas contra o povo armênio, o governo turco
cometeu outra vileza: a maioria dos jovem armênios mobilizados ao começar a
guerra não foram enviados à frente, mas que integraram brigadas para
construção de caminhos. Ao terminar o trabalho todos eles foram fuzilados por
soldados turcos.
Jacques de Morgan assim se refere às deportações, aos massacres e aos
sofrimento padecidos pelos armênios:
“Não há no mundo um idioma tão rico, tão colorido, que possa descrever os
horrores armênios, para expressar os padecimentos físicos e morais de tão
inocentes mártires. Os restos dos terríveis massacres, todos testemunhos da
morte sues entes queridos, foram concentrados em determinados lugares a
submetido a torturas indescritíveis e a humilhações que faziam preferir a morte”.
Nos anos de 1915-16 foram exterminados mais de um milhão de armênios, a
Armênia Ocidental foi devastada e despovoada, e o povo armênio perdeu
inúmeras riquezas e inapreciáveis tesouros culturais.
Depois da guerra tudo isto foi esquecido, e os criminosos turcos nunca tiveram
seu Nuremberg.
CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
O povo armênio não desapareceu quando estavam nos desertos da mesopotâmia
as mães armênias ensinavam a ler aos seus filhos desenhando as letras do
alfabeto armênio na areia
Até hoje é relembrado o dia 24 de abril e o povo armênio nunca esqueceu do que
aconteceu e sempre lutou para recuperar as terras que foram dominadas pelos
turcos.
Um especial aspecto que deve ser enfatizado, reside no fato de que embora
historicamente comprovado tudo o que aconteceu contra o povo armênio, há
ainda uma grande dificuldade em obter o reconhecimento oficial da comunidade
de nações, através de seu organismo maior –ONU, de que tal fato ocorreu e de
se obter as devidas reparações históricas e reconhecimento de direitos.
Como vereador dessa cidade maravilhosa e descendente de armênios me sinto
emocionado em poder relembrar esse fato histórico tão doloroso para a
humanidade e prestar essa homenagem aos meus queridos irmãos, para que
nunca mais nenhuma atrocidade venha a ser cometida contra qualquer povo.
E em nome do povo carioca tão generoso e solidário, me sinto honrado em ser
porta-voz de tal iniciativa, motivo pelo qual submeto o presente projeto de lei aos
meus pares.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

REPORTAGEM TIRADA DO DIARIO DE NOTICIA

"Os arménios não tiveram direito a defesa"

por
susana salvador24 Abril 2005
O seu pai, Juan Zavene Hapetian, foi um dos sobreviventes do genocídio arménio? Conte-me a sua história.
A família do meu pai é arménia e foi obrigada a abandonar a região onde vivia devido ao genocídio. A minha avó, a minha tia e o meu pai foram os três únicos sobreviventes. Nunca soube como e onde apanharam o barco em que fugiram. Depois refugiaram-se no México. O meu pai durante toda a vida teve documentos mexicanos, daí o no-me Juan. Acabou por ir para França, onde tirou o curso e conheceu a minha mãe. Casaram-se e foram viver para Barcelona, onde fundaram a primeira casa de tapetes orientais da Península Ibérica. Depois houve a Guerra Civil Espanhola e o meu pai, farto de guerras, veio para Portugal. No 25 de Abril disse "Mas será que algum dia vou ter paz?" Eu nasci em Portugal.
O genocídio arménio era um tema debatido na vossa família ou era tabu?
O meu pai evitava falar disso. O que sei sobre o genocídio foi-me dito por outras pessoas. Ele passou muito, não gostava de recordar.
O que lhe contaram?
Contaram-me que o chefe turco naquela altura dizia "Se tiverem arménios como vizinhos, sejam bebés ou não, autorizo-vos a matá--los." Era um assassínio autorizado. O povo arménio não teve direito a defesa, e isso para mim foi o pior.
Que sentia quando lhe contavam essas histórias. Que sente ainda hoje face a esse passado?
Por um lado, tristeza por saber o que o meu pai passou, mas, por outro, orgulho em ser arménio. Porque é raro o arménio que, fora do seu país, não consegue singrar na vida. Existe um combate interior, uma revolta. Não aceitamos a derrota nem nunca mais aceitaremos ser dominados por alguém.
Nos últimos anos a questão do genocídio tem vindo a ser mais falada...
Tinha de acabar por ser falada. O genocídio já é reconhecido em França e todos os países vão ter de acabar por fazer o mesmo. A própria Turquia, se quiser fazer parte da União Europeia, vai ter de o declarar oficialmente.
Acha que isso vai acontecer?
O dinheiro faz tudo. Por causa do dinheiro do mercado comum eles vão fazer tudo. O dinheiro prostitui as pessoas.
Hoje, os arménios ainda vêem os turcos como o inimigo?
Para mim não, mas para algumas pessoas ainda o são. Há uns anos estive em Istambul e na recepção do hotel havia um rapaz turco, com 22 anos. Quando lhe dei o meu passaporte ele reparou no nome, Hapetian. "Sou arménio", afirmei; ele ficou calado. Três dias depois, quando volto para fazer o checkout e recuperar o meu passaporte, decido comprar alguns postais. No momento de os pagar, o mesmo turco disse-me "Para si é grátis." Isso tocou-me muito.
Os turcos já começam a reconhecer os erros da sua história?
Os antigos não e a nova geração não se preocupa. A vida, ao contrário do ódio, tem de continuar. Tem de haver união entre as pessoas, porque é a união que faz a força

NOTICIA

Primeiro-ministro ameaça deportar 100 mil armênios ilegais da Turquia; país retira embaixador dos EUA

Do UOL Notícias*
Em São Paulo
Primeiro-ministro da Turquia, Tayyip Erdogan, avisou que pode deportar até 100 mil armênios residentes ilegais no país depois que os Estados Unidos e a Suécia aprovaram a resolução que qualificou como genocídio a matança de armênios durante a Primeira Guerra Mundial pelo extinto Império Otomano. Erdogan também alertou que a aprovação da resolução poder afetar o progresso no frágil processo de reconciliação entre a Turquia e a Armênia.

Raio-x da Turquia

  • Nome oficial: República da Turquia

    Tipo de governo: Democracia Parlamentar Republicana

    Capital: Ancara

    Divisão administrativa: 81 províncias

    População: 76.805,524

    Grupos etnicos: Turcos 70-75%, Curdos 18% e outras minorias 7-12%

    Religiões: Muçulmanos 99.8% (maioria sunita), outros 0.2% (maioria Cristãos e Judeus)

    Idiomas: Turco (oficial), Curdo e outras minorias

    Fonte: CIA World Factbook 2009
A resolução americana foi confirmada no mês passado e a sueca, no último dia 11.
Depois da decisão, a Turquia retirou seus embaixadores em Washington, nos EUA, e em Estocolmo, na Suécia. A aprovação nos EUA é provisória e o governo de Barack Obama promete impedir sua aprovação para limitar o estrago diplomático. O chanceler sueco, Carl Bildt, disse que a votação pode complicar os esforços de Turquia e da Armênia para normalizarem suas relações após um século de hostilidade.
A questão do massacre de armênios é muito delicada na Turquia, que admite que muitos armênios cristãos foram mortos pelos turcos otomanos, mas nega veementemente o número de vítimas apontado pela Armênia e negam que o massacre tenha sido um genocídio --termo recorrentemente empregado por muitos historiadores ocidentais e por alguns parlamentos.
A maioria dos armênios imigrantes vive e trabalham em Istambul e chegou no país após o terremoto de 1988. Cerca de 170 mil vivem na Turquia e apenas 70 mil são legalizados.
História
Centenas de milhares de armênios morreram entre 1915 e 1916, quando eles foram deportados em massa da Anatólia Oriental (leste da Turquia) pelo Império Otomano. Alguns foram mortos e outros morreram de fome ou de doenças.
A Armênia alega que cerca de 1,5 milhão de seus cidadãos morreu na ocasião, mas a Turquia sustenta que o número de mortos seria de cerca de 300 mil, menos de um terço do que dizem os armênios, e que turcos também morreram durante as operações.
O governo turco reconhece que foram cometidas atrocidades, mas argumenta que elas faziam parte de uma guerra e que não eram uma tentativa de destruição sistemática dos cristãos armênios.
A questão também não é consenso entre os historiadores. Muitos consideram que as mortes tenham sido orquestradas sistematicamente pelos turcos --o que indicaria um genocídio--, e alguns outros, além do governo turco, questionam este argumento.
A Armênia quer que a Turquia reconheça as mortes como um "ato de genocídio", mas sucessivos governos turcos se recusaram a fazê-lo.
O país também tem feito uma campanha pelo reconhecimento internacional dos eventos como genocídio, o que já foi feito por 20 países.
*Com informações de agências internacionais

FILME RUA PARAISO ( 1992 )

RUA PARAÍSO (1992)
588, Rue Paradis
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Ficha Técnica

Outros Títulos: Mother (Estados Unidos)
Quella strada chiamata paradiso (Itália)
Gênero: Drama
Direção: Henri Verneuil
Roteiro: Henri Verneuil
Produção: Mark Lombardo
Design Produção: Pierre Guffroy
Música Original: Jean-Claude Petit
Fotografia: Edmond Richard
Edição: Henri Lanoë
Figurino: Catherine Gorne-Achdjian, Chouchane Tcherpachian
Maquiagem: Jacky Bouban, Paul Le Marinel, Manlio Rocchett
Efeitos Sonoros: Jean-François Auger, Alain Sempé, François Groult e outros
Pais: França
Nota: 7.8
Filme Assistido em: 1993

Elenco

Omar Sharif Sr. Hagop, pai de Pierre
Richard Berry Azad Zakarian ou Pierre Zakar
Claudia Cardinale Mayrig, mãe de Pierre
Nathalie Roussel Gayané, tia de Pierre
Diane Bellego Carole, esposa de Pierre
Jacky Nercessian Apkar
Isabelle Sadoyan Anna, tia de Pierre
Zabou Breitma Astrid Sétian
Jacques Villeret Alexandre Pagés
Danièle Lebrun Mãe de Alexandre
Sylvie Joly Georgette Sylva
Maurice Chevit Nazareth
Cédric Doucet Azad, aos 7 anos
Ève Ruggieri Ève
Bernard Musson Mordomo
Henri Verneuil Padre, na igreja armênia

Sinopse

Às vésperas da estréia em Paris de mais uma de suas peças, o teatrólogo Pierre Zakar concede uma entrevista à televisão francesa.  À Ève, a entrevistadora, ele fala de sua infância, de como se apaixonou pelo teatro, depois de ter se formado em engenharia, como conheceu sua mulher, Carole, e evidentemente de sua obra.

Nascido na Armênia em 1915, com o nome de Azad Zakarian, mudou-se em 1921, com sua família, para Marselha, onde viveu até se tornar engenheiro.  Seus pais, Hagop e Mayrig, montaram uma pequena loja na cidade, sendo ajudados por suas tias, Anna e Gayané.  Não sendo ricos, moravam na zona pobre da Rua Paraíso.  A outra metade da rua era marcada por suas mansões, onde residiam as famílias abastadas da cidade.  Uma das passagens de sua infância em Marselha que mais o marcaram, foi a ida à mansão de um colega de escola, Alexandre, onde, ao chegar lá, foi humilhado por ele e por outros colegas ricos.  Quanto à Carole, ele a conheceu no Hotel Royal, em Evian, à beira do Lago Léman.  Alguns meses depois, os dois se casaram e tiveram dois filhos, Adrien de 10 anos e Charlotte de 12 anos.

No dia do ensaio geral de sua nova peça, "O Anel", seu pai chega à Paris e é levado para uma das mais caras suítes do Hôtel Royal Elysée, reservada por Carole, onde ele fica sozinho.  Após o almoço, vai até a rua do teatro e fica, sentado num banco, admirando o nome do filho no anúncio luminoso instalado em sua fachada.

Finalmente, chega a hora da estréia de "O Anel".  Antes da abertura das cortinas, Pierre observa a platéia lotada, onde se acham celebridades, críticos, Carole  e seus convidados, e pessoas comuns.  Ao voltar para sua sala, lê algumas mensagens que lhe foram enviadas com votos de sucesso.  Ao sair para fazer um lanche num Café, conhece uma jovem armênia, Astrid Sétian, responsável pela edição de um jornalzinho mensal e sua fã.  Pierre retorna ao teatro no momento em que as cortinas se fecham, sendo cumprimentado por críticos e por outras pessoas.

Ao ver uma reportagem feita com os pais de Pierre, na "Paris Match", Carole fica uma fera por achar que a mesma passa a idéia de que os mesmos são pessoas pobres e, por conseqüência, que não são ajudados por eles.  Instigado pela mulher, Pierre telefona ao pai reclamando do ocorrido.  O Sr. Hagop não diz uma palavra.  Logo depois, o teatrólogo o procura no luxuoso Hôtel Royal Elysée e não o encontra.  Na recepção, o informam que o Sr. Hagop pagou a conta e partiu em seguida, deixando apenas um bilhete para lhe ser entregue, o qual diz:  "Volto para casa, onde nossa porta e nossa mesa sempre estiveram abertas para um amigo de passagem.  Depois de seu telefonema, comprei a tal revista e a folheei com tristeza, procurando algo que pudesse ser motivo de vergonha para você e não encontrei nada.  Ao falar comigo pelo telefone, demonstrando toda a raiva que sentia naquele momento, talvez não tenha tido a coragem de mencionar seu depósito mensal.  Saiba, meu filho, que todo esse dinheiro acha-se na caixa existente em nossa cômoda.  Esse dinheiro é seu e nunca tocaremos nele.  Ele terá servido, apenas, para nos dar a ilusão de que poderíamos deixar de trabalhar quando quiséssemos, graças a nosso querido filho.  Para não magoar sua mãe, direi que fui recebido como um príncipe, o que é uma verdade a julgar pelo tamanho e o luxo da suíte que Carole reservou para mim.  Estou indo embora.  Teu velho pai, Hagop".

Já em Marselha, ao caminhar arrasado com a falta de calor humano encontrada em Paris, o Sr. Hagop tem um infarto e morre na rua.  No funeral, Pierre sente-se culpado pelo ocorrido, principalmente por ter aceito a sugestão de Carole de não levá-lo para sua casa, largando-o sozinho num hotel.  Esta, já na sala de embarque do aeroporto, propõe ao marido que a sogra passe alguns dias em Paris, onde ela tem amigos, desde que não se hospede com eles.  Em resposta, Pierre diz à mulher que há anos vem suportando em silêncio a amante do pai dela, seus amigos imbecis, seu irmão insuportável e suas irmãs idiotas.  Continuando, diz que chegou a hora de dar um basta em tudo isso e passar a cuidar mais de sua mãe.  Carole embarca com os filhos, enquanto Pierre volta à casa da mãe, onde a encontra rodeada de grandes e velhos amigos, recebendo a solidariedade de todos.

Mayrig é convencida a passar uns tempos em Paris na casa do filho.  Lá, recebe o carinho dos netos e, principalmente, de Pierre.  Quando Adrien demonstra o interesse em usar o nome original da família, Zakarian, e Charlotte o de aprender a língua armênia, Carole procura o marido e diz que os filhos estão sendo influenciados pela avó, de modo que, naquela casa ou fica ela ou Mayrig.  Imediatamente, Pierre chama os filhos e, na frente de Carole,  pergunta aos mesmos quais os motivos que os levaram a se interessarem pelo armênio.  A resposta dada por cada um não tem a menor ligação com a avó.  Diante do constatado, Pierre diz à Carole que ela é quem deverá deixar a casa.  Assim, o casal se separa.

Pierre procura a jovem Astrid Sétian, a fim de ouvi-la sobre a melhor forma de fazer para que seus filhos aprendam o idioma armênio.  Por coincidência, além de tomar conta de uma livraria especializada na cultura armênia e de imprimir mensalmente o jornalzinho "Horizons", na mesma língua, ela é ainda professora do idioma.

Seis meses se passam desde que Carole foi embora.  A peça "O Anel" continua a fazer sucesso com a casa cheia todas as noites.  As crianças fazem progresso no armênio.  Mayrig insiste em voltar para Marselha.  Sem que ela saiba, Pierre adquire a bela mansão da Rua Paraíso, nº 588, contrata empregados e faz uma grande surpresa à mãe, com o compromisso de visitá-la com freqüência.

De volta à Paris, ao apanhar os filhos no curso de armênio, convida Astrid para jantar um dia com eles, no que é fortemente apoiado pelas crianças.
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Críticas

"Rua Paraíso" é um ótimo e comovente filme francês.  Escrito e dirigido pelo cineasta de origem armênia, naturalizado francês, Henri Verneuil, narra a história de um bem-sucedido teatrólogo, igualmente armênio, desde sua infância pobre em Marselha.

Partindo de um roteiro inteligente por ele escrito, Verneuil apresenta, com habilidade, sutileza e realismo, um filme que procura mostrar a importância das relações humanas, principalmente daquelas ligadas à família.  Sua mensagem diz respeito a valores, tradições e amor, que podem se aplicar a todas as culturas.

A música de Jean-Claude Petit e o excelente trabalho apresentado pelos principais atores também são dignos de nota.