O que é mais importante, ser fiel ao passado histórico ou manter boas relações no presente?
Chama eterna no memorial do genocídio, Armênia. Foto: Corel Stock Photo.
Um assunto alvoroçou o Congresso Estadunidense em março de 2010: a votação que reconheceria a matança de armênios no início do século XX com o título de genocídio.
Mas, o que significa esta palavra? Vamos conhecer sua origem!
O radical genos vem do grego e significa: origem, povo, nação. Já cidium, vem do latim, e quer dizer cortar, matar. Juntando os dois radicais descobriremos que genocídio significa matar um povo.
Vamos ir mais além, observando a definição do Dicionário Aurélio:
“Crime contra a humanidade, que consiste em, com o intuito de destruir, total ou parcialmente, um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, cometer contra ele qualquer dos atos seguintes: matar membros seus; causar-lhes grave lesão à integridade física ou mental; submeter o grupo a condições de vida capazes de o destruir fisicamente, no todo ou em parte; adotar medidas que visem a evitar nascimentos no seio do grupo; realizar a transferência forçada de crianças dum grupo para outro”.
Foi em 9 de dezembro de 1948, poucos anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, que a ONU aprovou a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, tornando esta prática, passível de punição.
O massacre armênio (1915-1918)
O território que hoje pertence à Armênia, no passado fez parte do Império Otomano; e foi durante esta dominação entre os anos de 1894-1896, que se iniciaram os primeiros massacres. O auge da matança ocorreu entre 1915-1918 quando milhares de Armênios foram deportados participando de longas marchas pelo deserto, padecendo de frio, fome, cansaço e doenças. Calcula-se que no total, 1,5 milhão de armênios foram mortos. O massacre tornou-se mais conhecido no Ocidente graças ao livro de Arnold Toynbee, um historiador inglês, chamado de Atrocidades turcas na Armênia. Acompanhe uma parte de seu relato:
“Caminhavam a passo, a maior parte caindo de fraqueza por falta de alimento. Vimos um pai com uma criança de um dia ao colo e seguido pela mãe, caminhando conforme podiam, forçados pelo bastão do guarda turco. Não era fato extraordinário ver uma mulher cair desfalecida e ser obrigada a levantarse à força de bordoada.” TOYNBEE, Arnold. Atrocidades Turcas na Armênia: Denúncias de grandes personalidades. São Paulo, Paz e Terra, 1993.
National Archives NWDNS-4-P-302.
No cartaz veiculado nos EUA (1917-1919) está escrito: “Um pouco de ajuda pode salvar uma vida. 2,5 milhões de mulheres e crianças estão morrendo de fome. Você não pode deixá-los morrer. Campanha de ajuda Armênia e Síria.”
Após a mortandade, se iniciou uma diáspora de armênios pelo mundo. Se hoje a população do país tem 3,5 milhões de habitantes, outros milhões estão dispersos pelo mundo principalmente na Rússia e EUA. Já para o Brasil, calcula-se que cerca de 70 mil tenham migrado.
Hoje, independente do país em que vivam, os armênios lutam para que o genocídio seja reconhecido no mundo. A Turquia, “herdeira” do Império Otomano apesar de admitir a mortandade, nega a palavra genocídio e diz que os massacres ocorreram numa época de caos que atingiu a região, de guerra civil, agravada por doenças e fome. Para eles, com o colapso do Império, todos os lados tiveram vítimas (os turcos contestam os números armênios dizendo que são um tanto exagerados).
O problema hoje
O que um fato que ocorreu no início do século XX tem a ver com os EUA de 2010? Vamos descobrir…
Nem todos os países do mundo já reconheceram a matança armênia como genocídio. A França, quando votou pelo sim, há poucos anos, teve uma multidão protestando em frente a sua embaixada na Turquia e uma ameaça de boicote aos seus produtos. Já os EUA, quando anunciaram a votação (feita no Comitê de Assuntos Exteriores da Câmara de Representantes dos EUA), receberam um aviso de diplomatas e políticos turcos que, o resultado poderia prejudicar as relações entre os dois países.
A Turquia é uma grande aliada estadunidense. É em seu território que os EUA têm uma base aérea que permite enviar suprimentos e homens para o Iraque e o Afeganistão. O país, também é membro da OTAN, tendo o segundo maior exército dessa aliança militar; o que explica ser praticamente obrigatório para os EUA manter boas relações com a Turquia.
A votação relacionada ao genocídio foi assunto nacional, sendo transmitida pela TV turca com grande audiência. O resultado foi apertado: o Congresso reconheceu o genocídio por 23 votos a 22. A secretária de Estado Americano, Hillary Clinton, rejeitou a votação do Congresso e trabalhará para que o Senado americano não reconheça o genocídio.
A polêmica continua, e vamos ver quem vai ganhar: a História ou a diplomacia internacional?
Por Priscila Pugsley Grahl
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