sexta-feira, 23 de abril de 2010

DICAS DA CULINÁRIA ARMÊNIA Luciano Pires

Luciano Pires: "Jornal Diário da Região, 19 de Março de 2008
(São José do Rio Preto/SP)





A guerreira Parouhi

Por Pierre Duarte

Quem olha para Parouhi Darakjian Kouyoumdjian talvez só enxergue uma simpática senhora de seus 87 anos de idade. Talvez poucos saibam que esta mulher - a mais antiga armênia viva em Rio Preto - é uma guerreira. Viveu tempos difíceis no país dominado pelo regime turco no início do século passado, ficou meses num navio cargueiro com seus pais e suas duas irmãs até chegar no Brasil. Parouhi tinha apenas seis anos de idade quando sua família desembarcou no Porto de Santos, em 1926, e foi recebida pelos patrícios. A alegria da família Darakjian pela liberdade do regime turco foi maior ao sofrimento pelas dificuldades financeiras em terras ocidentais. Cultura, idioma, clima - tudo muito diferente da antiga Armênia. O patriarca Sarkis Darakjian instalou a família em São Paulo e seguiu para a região noroeste do Estado para mascatear.

Somente em 1928 conseguiu trazer a mulher Aruciek e as filhas Azaduhi, Parouhi e Berjuhi para Mirassol. “Minha mãe era filha de médicos. Ela tinha uma situação econômica muito boa na Armênia, enquanto solteira. Me lembro que ela sofria calada com a vida que levava em Mirassol, porque o início foi muito difícil. Era uma mulher muito submissa”, conta Parouhi. Dos tempos de infância em Mirassol, Parouhi se lembra que morava numa espécie de curral, em uma chácara de armênios. “Tinha muito percevejo. Todos os dias minha mãe tinha de ferver os lençóis e colocar os colchões no sol”, afirma. Na medida em que a família foi crescendo - com a chegada de Murad, Maria e Krikor -, a situação financeira se estabilizou. Nessa época, os filhos ajudavam os pais na loja da família, aberta em Mirassol.

Casamento

Você quer casar?”, perguntou Sarkis para Parouhi. “O senhor que sabe”, respondeu a filha obediente. Com o “consentimento” da jovem, o patriarca acertou as núpcias com Aris Kouyoumdjian, filho adotivo de Zartar e João Kouyoumdjian - donos da loja Casa Verde, em Rio Preto. “Naquele tempo, os pais acertavam os casamentos entre armênios. A gente (moças da época) praticamente só conhecia o noivo no dia do casamento”, conta. Com a união das famílias Darakjian e Kouyoumdjian em 1939, Parouhi passou a viver com o marido e os sogros na região conhecida como “quarteirão armênio” - na rua General Glicério. Além de ajudar no comércio, cuidava dos filhos e dos afazeres da casa. “Nunca fiquei parada. Até hoje preciso me sentir ativa”, diz a senhora que em julho completará 88 anos. “Até pouco tempo fazia esfiha para vender.

Mas ainda faço cachecol de lã para minha filha vender na loja dela. Não consigo ficar parada assistindo à televisão”, afirma. “Foi um casamento bom. O mais importante é que consegui criar e formar meus cinco filhos (Zabel, Nevart, Beatriz, Maria e João Aris)”, resume Parouhi. João Aris, neurologista, é um dos maiores pesquisadores científicos de Rio Preto, atuando na Faculdade de Medicina de Rio Preto e Hospital de Base. Hoje a família conta com nove netos e dez bisnetos. “Antigamente a gente era muito submissa. Não expressava muito a opinião, por isso acho que hoje é melhor”, diz. Dos filhos, apenas Zabel e Beatriz casaram com armênios. “Mas por opção”, esclarece.

Bastermã

Ingredientes:
1 peça de coxão mole
Sal grosso
Tchamã (tempero armênio)
Colorau
Pimenta síria
Pimenta calabreza
Alho a gosto

Modo de preparo
Cortar a carne em tiras grossas, no sentido das fibras. Coloque numa tigela e cubra com sal grosso. Deixe curtir na geladeira por três dias. Limpe a carne com um pano seco e pendure no sol por mais dois dias. Misture o tchamã, colorau, pimenta síria, pimenta calabreza e alho até atingir o ponto igual a uma massa de bolo. Passe a carne no tempero e deixe curtir por mais três dias, pendurada na sombra. Corte em fatias bem finas. Sirva como aperitivo ou frita com ovo.

Genocídio armênio

Embora a família Darakjian também tenha fugido do regime turco, as marcas do genocídio armênio foram mais dolorosas para os Kouyoumdjian - especialmente para Aris, que faleceu em 1989, aos 74 anos. “Os turcos dominaram, mataram toda a família do meu marido e jogaram os corpos no rio”, conta Parouhi. Segundo ela, Aris nunca superou o trauma e evitava falar sobre esse assunto - tamanha era a dor. Junto com a família, Aris foi jogado ao rio com apenas dois anos de idade. “Os meus sogros viram o menino se debatendo dentro d’água e o salvaram. Foi então que eles criaram o Aris como único filho”, revela. Ainda sob a dominação turca, vivendo como escravos em tendas árabes enquanto eram deportados para a Síria, João foi separado de Zartar e Aris.

“Somente depois de quatro anos é que eles se reencontraram e conseguiram fugir para o Brasil”, diz. Durante o Império Otomano, na Primeira Guerra Mundial, ocorreu o massacre de um milhão e meio de armênios. “Somente depois que cresci é que compreendi o sofrimento dos armênios. Nunca meus pais nos ensinaram a ter ódio ou rancor dos turcos”, diz o médico João Aris, que todo ano, no dia 24 de abril, escreve para o Diário da Região um artigo tocante sobre as atrocidades sofridas pelo povo armênio.

Destino

Quando a família de Parouhi estava no navio cargueiro a caminho do Brasil, outra família armênia também vislumbrava tempos de glória no Ocidente. A família Sapsezian seguia viagem com um bebê de apenas um mês - Aharon. O patriarca Sapsezian se instalou em São Paulo e conseguiu fazer fortuna. “Zabel já era moça, quando Aharon - aquele bebê que eu conheci com um mês - veio a Rio Preto com um grupo da igreja”, lembra a simpática senhora. “Eles se apaixonaram. E como o Aharon era um rapaz muito bonito e inteligente, as moças de São Paulo não aceitavam a idéia de ele se casar com uma caipira de Rio Preto”, diz. Hoje o casal vive na Suíça. Beatriz se casou com Rapiel Parsekian, o caçula da família Parsek - da tradicional Casa Parsek. Nevart se casou com um descendente sírio, Maria é solteira e João Aris se casou com uma médica brasileira.

Zartar e João Kouyoumdjian salvaram o caçula Aris do genocídio



NOTA
Kouyoumdjian e Kuyumjian são a mesma família. A diferença de grafia é por conta de diferentes rotas de imigração - entenda-se fuga ao genocídio perpetrado pelos turcos.

– Enviado usando a Barra de Ferramentas Google"

Um comentário:

  1. olá, meu nome é isabela, meu bisavô veio da Armenia em um navio cargueiro que desembarcou em Santos e formou família em Araguari - MG. A única coisa que sei realmente é que seu nome era João Gabriel (ou Hanna Sarkiz em armenio, segundo minha mãe), ele tinha uma irmã que correspondia com ele chamada Iasmin. Por favor se alguém tiver alguma informação a mais para me passar. meu email é: isabela.ega@gmail.com
    OBrigado.

    ResponderExcluir